Cobertas

Por enquanto, faz-se um intervalo na construção do exterior do galeão. Temos os dois forros completos, com o respectivo cintado e também já se procedeu ao recorte das mareações e abertura das portas das bateria das bocas de fogo. O instinto construtivo move agora a nossa curiosidade para múltiplos trabalhos a realizar no interior da embarcação.
Denomina-se “desempachar” ao conjunto de procedimentos utilizados a bordo para preparar as cobertas para o combate. Desempache-se pois o remanescente das balizas acima da primeira bateria de bocas de fogo com o cuidado devido para não danificar o costado do navio. A fricção da fresa ogival no contraplacado marítimo provoca facilmente a combustão deste último e convém acautelar para que o modelo não se incendeie no excesso de zelo para retirar rápida e eficazmente os excessos de madeira.
Recorte de um vau com a curvatura desenhada a partir de um gabarito construído com a ajuda de um diagrama de redução, já descrito noutras páginas ( ex.  http://muleta-do-seixal-forro2.blogspot.com/ ) . Nesta caso, a relação entre a recta e a flecha do vau é de 1/40 o que produz  uma curvatura generosa, mas não excessiva. Segue-se a aplicação dos vaus que devem ser posicionados tendo em conta o tosado da coberta. De acordo com a documentação da época, da mestra para vante o pavimento das cobertas levanta dois palmos ( aprox. 50 cm) e da mestra para ré levanta três palmos ( aprox. 75 cm). Quando recombinamos estes valores numa relação de escala dá-se  um pouco mais do que  1 cm ao levantamento da coberta para a vante e  um pouco mais de 1,5 cm ao levantamento da mestra para a ré.
A primeira tábua do forro é colocada com um dos cantos ao longo da mediania para registo mais consistente do meio do navio.  Segue-se o complemento do forro com lamelas de marupa de 2.2 mm de espessura e 4,5 mm de largura.  A espessura  da lamela de forro permite que, depois da sua aplicação, se possa  corrigir uma eventual irregularidade do forro em altura.
Depois de se ter desempolado o primeiro forro traçou-se um conjunto de linhas transversais à mediania em intervalos de 2,5 cm, correspondendo ao lugar onde estaria efectivamente os vaus verdadeiros da embarcação.  As tábuas do 2º forro foram criteriosamente escolhidas para apresentarem o mínimo de irregularidades e/ou manchas da própria madeira. Fez-se, em cada tábua, um rasgo de 12,5cm em 12,5 cm,  que corresponde aos topos das madeiras em tábuas de forro com 6 metros  de comprimento à escala real.
A primeira tábua do segundo forro volta a ser colocada com um dos lados ao longo da mediania. Os topos de tábuas contíguas devem cair em vaus diferentes deixando, pelo menos, quatro tábuas entre si. Os cantos superiores dos lados das tábuas do forro do convés são boleados para simular o intervalo onde se punha o calafeto.

 Conclusão do forro do pavimento da 1ª bateria de bocas de fogo. Lateralmente, por cima do forro e contra a amurada, o trincaniz e, 7 palmos de goa acima deste, o dormente para os vaus do pavimento da 2ª bateria de bocas de fogo.
 
 
 Construção e aplicação dos vaus, com reforço longitudinal. 
Primeiro forro do pavimento da 2ª bateria. As carretas das bocas de fogo já se encontram em posição de combate, na coberta, aguardando pelos canhões que chegarão oportunamente.
 
Perspectiva exterior sobre as carretas da 1ª bateria


CONTINUA BREVEMENTE